26/02/2012

LIGAÇÃO À MEDUSA - 18 (integral)




18. DOIS SONETOS E UMA SEXTILHA

Leiria, terça-feira, 30 de Agosto de 2011

I. SONETO AQUOSO

Aquosa orla te molhe, Mãe, amor, a fala,
que duros são os dias mais calados.
Ao prospecto lunar, quem vê e cala?
E quem ainda e todavia se rala?
Vivos são nossos mortos, enterr’amados.

A nada tal importância se sobeja,
q’a gente é educada, a gente beija
e cumprimenta, irmão, mãe na mão.

Acabou o emprego de/para toda a vida,
dita útil: e o pano é de viver mui inconsútil.

Aos sábados, nós estamos fechados.
Calados. Enterrados. Porém,
há que dizer, talvez, à Mãe
que agradecidos somos – e agraciados.

II. SONETO À VISTA DE OLHOS MARAVILHOSOS

Castanhos, onde, flavo, o mel s’insurge.
Terra de cabelo, de ondas brancas.
Patuleia-se terno – e tenro surge
à vista do café, que aliás proíbe
a formosura tanta que, nele, dele vive.

Humílimo senhor de suas patas,
que mãos quatro são à vista crua.
E dele toda a física é nua:
daqui o vejo em miradas insensatas.

Trata-se, ó minha ima voz, de um ser
a que valia bem a pena pertencer.
Não mais vos digo, Mãe e meu irmão
e filhas minhas, vo-lo juro sem senão,
que eram maravilhosos – os do meu cão.

III. ASSENTAMENTO ASSERTIVO

A mulher do café diz frases práticas.
O amor deveria ser particular
sempre, patibular é que nunca.
Os guarda-redes também envelhecem,
não é só a gente, por mais avançada.
Correm ventos, lentos morrem.

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Canzoada Assaltante