06/05/2011

Rosário Breve n.º 205 - in www.oribatejo.pt


Vivenda Lopes


A história de hoje é tão verdadeira como a de ontem. Aconteceu. Disseram-me que aconteceu. Parece que foi verdade. E então era uma vez. Era uma vez um homem ainda novo que casou cedo com uma mulher pobre. Ela também era nova. E ele também era pobre. Vamos ver todos o que lhes aconteceu.
Casaram-se – e a vida não andava. Tinham pouco dinheiro. O futuro parecia-lhes, aos dois, muito mais perigoso do que o passado. Não passavam fome, mas necessidades – ai isso sim, passavam.
Vai daí, ele lembrou-se de emigrar para a América. Foi ter com a mulher e teve a conversa do costume:
Olha, eu vou ali e já venho.
E ela respondeu-lhe assim:
Ou então vou eu lá ter.
E assim foi. E assim tudo foi. Ele embarcou, desembarcou e arranjou trabalho. Passados uns cinco anos, o homem voltou ao país natal, que é o nosso Portugal, e disse assim à mulher:
Olha, eu vou ter de me casar na América com uma velha. Mas tu ouve isto com atenção.
E então ele explicou à mulher. Explicou-lhe muito bem explicadinho. E ela ouviu. E ela escutou. E ela concordou. Ele ia casar-se com uma velha tão rica, que o ouro, ao pé da velha, perdia valor. E ela aceitou. E ela concordou. Que sim senhor.
Divorciaram-se em Portugal. Ele levou a documentação para a América. Quando chegou à América, a velha estava à espera dele. Ele mostrou-lhe os papéis. A velha ficou contente. Passados uns tempos, casaram-se. E foram felizes enquanto esta história não acaba.
O homem português e a velha americana casaram-se perante a Lei e perante a Igreja. Ele deixou de ser criado dela. Ela continuou a ser patroa dele. Veio um dia em que ela se queixou da criada de quarto. Então, ele disse-lhe assim:
Tenho uma prima em Portugal que é muito séria e que dava uma criada porreira.
E assim foi. Ele mandou vir a ex-mulher de Portugal. Explicou-lhe tudo muito bem explicadinho. Ela disse que sim. Ele mandou-lhe dólares para o bilhete. Ela entrou no avião, saiu do avião e tornou-se criada.
Vinte e dois anos passaram até que a velha morresse. Os dois portugueses esperaram a fio os vinte e dois anos. Quando a velha americana morreu, o viúvo continuava português como um alho. Casou-se com a ex-mulher logo a seguir.
Voltaram os dois, patrão e criada, para Portugal. À beira da estrada, entre Aljezur e Santa Comba Dão, bem acima de Tavira e muito antes de Ribeira de Pena, a vivenda do casal impressiona. Tem tijolo, tem tinta, tem telhado, tem casota de cão e tem cão. E no relvado, cortado a tesoura de letras de sebe, pode ler-se:
Vivenda Lopes.
Graças a Deus.

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Canzoada Assaltante