14/03/2009

Habitação e Povoamento de Pombal (8)

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Entardenoitecer de 11 de Fevereiro de 2009


OFERENDA NENHUMA

Aos exércitos da noite assiste a impiedade.
Furtivos homens mínimos rescendem a bosque.
Sou já também uma sombra na cidade,
um mínimo furtivo ser dos que

existem por a pura contramão.
Toca a rebate o fim das merendas.
Recolhem a casa solidões em solidão.
A impiedade é, não há oferendas.



Posto isto, assimilo devagar a flor retórica de Cortesão a propósito do ulterior franciscanismo social-cristão do Eça dos últimos anos. Em paralelo, habito o Canadá novofrancês de XVI e XVII: Quebeque, Montreal e Trois-Rivières, principalmente.
Tardias figuras conjuram-me versos a cuja factura resisto: mais e mais prosaico, voltei a ler contra os dias muito adentro e afora. Não é já a tristeza, mas uma espécie de brandura banhomariana, um torpor que chego a confundir com uma tranquilidade.
Na madrugada, visão em casa de um documentário: The Bridge, a propósito de um ano (2004) de (24) suicídios (reais, realíssimos, humaníssimos, flagrantes) na Golden Gate Bridge, em S. Francisco, EUA. Filme de uma delicadeza cirúrgica e de uma contenção lírica absolutamente desarmante. Homens e mulheres à beira do desespero e da solução final: mergulhando na brevíssima glória do alívio. Os que ficaram deles e delas sem elas e sem eles. Os nomes, as idades, as doenças, os problemas – tanta humanidade em um só ano, em uma ponte só (e tão bonita, a porra da ponte inaugurada em 1937).
Finda a ponte, regressei ao Canadá da Nova França e quase não pensei mais naquelas pessoas voadoras, anjos pesados, traídos e levados pela gravidade fluente das águas.

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Canzoada Assaltante