21/12/2005

Boletim Agrário

A fria noite amarfanha suas irritadas crianças
Confinadas aos quartos como aranhas de gelo
Nos pátios cristalizam os inúteis cães de caça acorrentados
As figueiras vigiam as demandas dos livres gatos
A Lua borra de cal molhada o céu de aviões
As aldeias papilam no veludo como giz esmigalhado
Conto os passos pelo esmigalhar da brita
Finjo tratar-se de areia sob outros pés os mesmos em pequeno
A outra temperatura longe da montanha glaciar
As pastelarias espaciais viajam na solidão sideral
Uma após outra no espaço-alma-tempo-ser
Frases rápidas parecem versos ditos a ninguém
Reclamos luminosos escaqueiram latim eléctrico
Nec ultra sine pro ab super cum a de te plus
Amanhã começa outro ontem
As pombas e os falcões assinalados sobre a rotunda
As casadas e as púberes e os malquistos e os imigrantes
As taxas de juro e o comércio e a feira de máquinas
E a nova novela do horário a que chamam nobre
E a esperança essa velha paspalhona.
O futuro semeia-se todos os ontens
Conforme o frio.


Tondela, noite de 20 de Dezembro de 2005

4 comentários:

Gabriel Oliveira disse...

Daniel, ouve o António Cartaxo, hoje, 3ª-feira, na Antena 2, às 22 horas, por favor.

Daniel Abrunheiro disse...

Escapou-me. Mas obrigado, Nuno.

Gabriel Oliveira disse...

Foram segredos meus por lá revelados. O António Cartaxo dedicou-me mais de metade do seu programa de 1 hora, no já costumeiro "Em Sintonia" dedicado aos ouvintes. Em resposta a 2 cartas, e a assuntos/músicas que abordei, passou um andamento do 3º concerto para piano e orquestra de Bartok, parte do 3º andamento da 6ª Sinfonia de Mahler, e o 1º Andamento do Concerto para piano e orquestra nº 1 de Einohjuani Rautavaara. E uma história belissima (quando contada por ele), com trechos das 2 cartas.

Daniel Abrunheiro disse...

Fixe. Pena minha não ter lido o teu aviso a tempo. Só o vi esta manhã.

Canzoada Assaltante