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Quinta-feira,
8 de Abril de 2021
João Paulo Jonas Gala esteve estabelecido, aqui perto, no ramo armazenista de secos & molhados. A mulher dele mantinha tasca-petisqueira duzentos metros a montante. Essa Felisbela fritava muito & muito bem peixe, tanto do mar como do rio. João Paulo vinha almoçar à mulher. Trazia-lhe os precisos que ela telefonasse a pedir. Bacalhau do melhor, presunto, tremoços, azeitonas, garrafões – tesouros de Portugal, enfim. Casamento feliz & belo, o de Felisbela com João P.J.G.
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Não estraguei Tempo, não hoje. Li Soldati, Guareshi, Valéry & Proust. Não muito – ou não de mais. Fui descansar a vista à marquise. Abri frecha (as vidraças são corrediças em calha) – e então, velho fumador velho que sou, tomei profundo hausto de ar refrescado pelo entardenoitecer. Já as aves livres se tinham recolhido a seus misteriosos tugúrios. Não levaram fome, que as alimentei fartamente a arroz & pão – pombas, pardais, arvéolas, melros, rôlas, poupas, piscos. Agrada-me ter de fazer sopa nova. Tratar dos legumes entretém-me por si, invariavelmente, a de si variável mente.
Vou cuidando-me pensando sem pressa nem ânsia, sem ilusão nem fé, sem prostíbulo nem disneylândia. É a parte menos má de envelhecer. Já não toco em salões-de-baile, já não aturo má literatura, já não me importo de comer & beber sozinho o meu pão & o meu vinho.
E não faço, como o acima-exposto bem o demonstra, de mim assunto.
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Há mais de um ano que é domingo todos os dias
Domingo, dia de pensar nos mortos
Os mortos, esses adormecidos que sem retorno amamos
Mas não acordamos.

São estes textos que aqui me trazem diariamente.
ResponderEliminarÉ gratificante ter alguém do outro lado. Refiro-me a esta vida, claro, não ao "outro lado" dos espiritistas. Muito gratificante.
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