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23/11/2020

VinteVinte - 137 (só I & V)




137.

 

A COMEÇAR PELO M.

 

Coimbra, terça-feira, 8 de Setembro de 2020

 

(I)

(Idade. Corpo fazendo por suportar-lhe as manias.)
(Corpo. Idade fazendo por suportar-lhe as manias.)

(...)


V

Dei alguns minutos ao caso da gorda assassina.
A gorda & o amante mataram o marido da gorda.
Depois profanaram o cadáver & a memória do homem.
O futuro chama-se agora gaiola.
Este caso tem pouco picante, é só sórdido.
Mitomaniazita pouquíssimo letrada, apenas.
Não dá para rir, é quase triste a alegria disto.
Não sabem breve a existência, julgam-se eternos.
A gorda & o amante são corpos feiosos.
Nem pela estética é possível pendurá-los na parede.
São celebridades nadas-mortas, coitadas.
Fizeram tudo mal, julgaram estúpida a polícia.
Mentiram tudo mal, julgaram estúpido o tribunal.
Sempre entretiveram a pátria-mirone, enfim.
Agora vão ter dentista de borla, vá lá.
O marido perdeu tudo, não tem como despertar.
A noite-sem-manhã tomou-o todo.
Perversa alegria, esta, a deste povo-mirone de gordas.
Por nada & para nada, uma vida obliterada.
Não parece ser grande pitéu, a comida nas prisões.
Dá para ganhar algum traficando telemóveis, pós, favores.
Pensando bem, a gorda & o amante nem ficam muito mal.
Estão vivos ambos, podem sempre renascer em Cristo ou Alá.
Ou Buda. Ou Coiso. Nada lhes impede a bisnaga mística.
Decerto não penam a pena toda.
Daqui a uns tantos verões estão cá fora.
Pode ser que o amante da gorda ganhe um andar-novo.
Tudo pode ser – menos para o marido da gorda.
Não mais o marido da gorda cheirará o mar.
Não mais merendará ao fresco no pinhal.
Ninguém beneficiará jamais de um seu gesto.
O trabalho que tinha a dar jamais será recebido.
A televisão volta à festa da pandemia viral.
Toda a gente esquece a gorda & o amante da gorda.
A começar pelo morto.


4 comentários:

  1. João Pedro A. N. Lopes23 de novembro de 2020 às 21:35

    Viva, Daniel

    É muito engraçado que fales na gorda e no amante, porque sempre defendi que quem fica pior no meio daquele caso é o amante da gorda.
    A saber:
    - O triatleta que deus tem conheceu o criador, ou na pior (melhor, sei lá) hipótese não conheceu ninguém e assim ficará num arrefecido desconhecimento do porvir.;
    - Da gorda dir-se-á que ainda assim, gorda como é, lá conseguiu arranjar um amante mais magro que ela, e que terá dotes de alcova que a crime horrendo o convenceram;
    - O amante da gorda é o amante da gorda, que não arranjou amante com melhor Índice de Massa Corporal e ainda se deixou convencer para etc.

    Raramente tenho possibilidade de desenvolver esta simples mas acertada teoria; repararás que não é frequente, quando em companhia de outras pessoas, ter a sorte de estar num grupo sem gordas ou maridos ou namnorados ou amantes de gordas, o que torna constrangedor o piadismo referente a buchas homicidas.

    Obrigado, pois, por esta oportunidade:)

    Abraço

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  2. João,
    pois ainda bem que pudeste esvaziar a alma.
    Concordo em absurdo, perdão, em absoluto com o que, com tão subido acerto, teorizas.
    Isto das amantes magras não dá palha ao burro poético.
    Abraço firme.
    DA

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  3. João Pedro A. N. Lopes24 de novembro de 2020 às 15:23

    Ó Daniel...

    Esvaziar a alma? Es-va-zi-ar? Raio, em tão pouca conta me tens que crês a minha alma só destas parvoíces feita?

    Despejar uns resíduositos, vá lá, agora esvaziar... :)

    Abraço

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  4. Realmente, o verbo não é feliz. Ainda me ocorreu 'evacuar', primeiro. Vou tentar outra vez:

    João,
    pois ainda bem que pudeste aviar a gorda.

    Já 'tá!

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