© Tina Modotti - Hands of the Puppeteer (1929)
QUE O AMOR É TRISTE EM PESSOA
Que o amor é triste em pessoa, um amor de pessoa, como se diz na aldeia.
Que é um acontecimento sem tempo, rosa todo e sem água.
Que embate nas oliveiras, treme e teme as mãos escuramente.
Que não basta estar morto para não ser dele.
Que é como em aldeia seca sofrer o mar, um rio sendo tudo, imitação possível de mar, de amar, de ser amado em árvore dentro como estrela.
O casebre pessoal que cerca o amor, em pó.
Que à terra torna o céu e suas coisas: ovelhas-nuvens, rosa-sol, mortos-vivos, senhor meu e minha senhora.
Na aldeia o amor é como o domingo em cheio no coração.
E um domingo de aldeia é a tristeza em pessoa, que muito equivale à deseternidade de Deus, ao fulgor da febre, à propedêutica passagem, ou seja, a solidão a vau, o pensamento.
Que o amor é aonde não chegámos, que é de onde não chegámos a partir.
Estão aí os apeadeiros ferroviários para no-lo mostrar, de passagem quieta são o motor e a desolação.
Que ninguém vem nem sai daqui, um, da aldeia, mesmo.
Em alternativa, amar o natural, dele o xadrez de troncos, ramos, seixos, sombras de aves, espasmos em cor da tempestade que queima o ar da respiração e o amor que sitiou o coração.
Amar a fadiga humana das ovelhas que tornam, delas a cabisbaixa maternidade, os cordeiros que lobos sonham em sombra.
Uma vez na vida, não pode ser igual o amor ao amor de que nascemos, nós o cão, nós as hortênsias, nós as casas em estrelas, nós as aves pintalgadas em paleta, nós em magia, nós cada um só, mesmo.

nós nos nós dos outros,
ResponderEliminarnus na parca invenção dos
corpos.
um abraço
jorge
Um abraço, meu amigo.
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