
Tesouro II
Minha Mãe
o sol tornou hoje como uma febre benigna
todo o santo dia andei como um cristo
de braços abertos través o incêndio
tenho comer em casa
a Senhora não se preocupe
as janelas da sala dão para uma praça
antiga como a Senhora
majestática me parece ora a praça
como a Senhora
e como a Senhora
ordenada e ordeira e limpa
o nosso amor
Mãe
ao sol nas praças
como antigamente
ao sol que torna
antigo até o futuro
do nosso amor
minha Mãe.
Tesouro I
Vi os olhos do meu pai na cara de um homem que passava na rua.
Durou pouco, o regresso desse olhar de cão batido.
O homem olhou-me com um olhar que já era o dele.
Fiquei parado na rua.
Fazia sol.
O meu destino, que na altura era ir ao multibanco, tinha perdido o sentido, como todos os destinos.
Os olhos do meu pai, caramba.
Estes anos todos sem ele, e ali estavam os olhos.
Preciso sempre de uma explicação.
Preciso sempre de saber tudo.
Continuei parado ao sol, à espera de perceber.
Não durou muito, a explicação.
Eu tinha parado diante de uma montra espelhada.
O sol devolvia-me todo um corpo de vidro e luz parecido comigo.
Olhei-me os sapatos, os joelhos, a aba do casaco, a gravata, a cara.
Nessa cara alheia, lá estava outra vez o olhar do meu pai.
Nunca mais volto ao multibanco.
Nunca mais vou precisar de dinheiro.
Um tesouro olha por mim.

daniel, meu daniel...
ResponderEliminarAdorei seus textos... parece que Portugal tem me perseguido com a sua literatura....acabei de ler um livro de Joana Bértholo o HAVIA, achei muito bom. Li a banda desenhada A PIOR BANDA DO MUNDO de José carlos Fernandes, gostei muito... agora e do nada apareceu seu blog...é muito engraçado.
ResponderEliminarseja bem-vindo.
ResponderEliminarmuito bonita, a tua mãe, daniel *
ResponderEliminarTalvez esteja em Portugal em Maio, vou para o Festival de Teatro de Santo André com a minha companhia de teatro com a peça Páginas Amarelas. se puder nos assistir compareça. è uma inspiração da PIOR BANDA DO MUNDO.
ResponderEliminarABS!!!