08/07/2005

Cartão

Um velho com um cartão quadrado debaixo do braço.
Sai de casa, atravessa a rua, desce a rampa dos bombeiros, atravessa outra rua, entra no café.
É esperado por outros velhos, três.
O velho número um põe o cartão na mesa, os outros tratam da caixa das pedras, do anis e do cinzeiro.
O dominó começa.
Ao meio-dia menos um quarto, o jogo é suspenso.
Ao meio-dia, em quatro casas, os quatro velhos comem os quatro almoços.
O número um trouxe consigo para casa o cartão quadrado.
Quatro sestas acabam ao quarto para as três.
Às três, os quatro estão no café.
O número um deposita o cartão.
Jogam.
Alguns anos e anis assim.
Um dia, em pleno jogo, o número um sente-se mal.
Chamam a ambulância, levam-no.
O cartão, pela primeira vez, fica no café.


Quinta de Almargem, Viseu, 2 de Julho de 2005

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Canzoada Assaltante